Posição em ranking da percepção da corrupção é a pior em 14 anos
O Ãndice de Percepção da Corrupção é produzido pela Transparência Internacional (TI) desde 1995. De lá pra cá, a metodologia sofreu alterações e mais paÃses foram sendo incorporados. Dessa forma, tendo em vista a colocação do Brasil nos exercÃcios em relação ao número de paÃses de cada ano, percentualmente, é possÃvel perceber que a posição de 2015 é a pior desde 2001.
Há 15 anos, o Brasil ocupou a 46ª colocação dentre 91 paÃses analisados. No ano passado, a posição foi 76ª, mas do total de 168 âparticipantesâ. Na análise realizada desta maneira, a pior colocação brasileira aconteceu em 1996, quando o Brasil ocupou a 40ª posição dentre 54 paÃses analisados.
A metodologia do Ãndice sofreu alteração a partir de 2012. Dessa forma, a comparação direta das notas dos resultados atuais e os dos outros anos não é possÃvel. Até 2011, a nota final de cada paÃs consistia na combinação dos resultados obtidos em outros rankings internacionais de corrupção, posteriormente ponderada em função dos desempenhos do paÃs em cada ranking comparados aos dos outros paÃses avaliados.
A partir de 2012, a etapa da ponderação foi eliminada e, agora, as notas do Ãndice são calculadas apenas a partir das notas dos outros rankings. Se forem consideradas as informações a partir daquele ano, a nota de 2015 foi a pior nos últimos quatro exercÃcios, tendo atingido o máximo de 43 pontos em 2012 e 2014, 42 em 2013 e apenas 38 no ano passado.
Em termos de posições, só de 2014 para 2015, o paÃs perdeu sete âlugaresâ. Em 2014, o Brasil figurava na 69ª colocação com 43 pontos. O relatório da TI credita à s descobertas da Operação Lava-Jato o aprofundamento da crise econômica brasileira.
De acordo com a organização, o paÃs âfoi atingido pelo escândalo da Petrobras, no qual polÃticos são acusados de receber propina em troca de contratos públicos. A economia foi triturada e dezenas de milhares de brasileiros já perderam seus empregos. Esses trabalhadores desempregados não são os responsáveis pelas decisões corruptas, mas são aqueles obrigados a viver com suas consequênciasâ.
O cientista polÃtico Roberto Romano afirma que esperava uma variação maior, negativamente, na posição do Brasil. âEstamos vendo desvios de bilhões e devoluções de milhões. A corrupção está escancarada e o nÃvel, até para termos brasileiros, é inédito. Isso reflete na avaliação negativa da presidente, do Legislativo e do próprio Judiciárioâ, explica.
Para Romano, a população está esperando o que vai acontecer nas eleições para ter um norte mais desconsolado. âPor mais que tenha caÃdo sete posições, se fosse uma queda de 20 pontos estaria mais de acordo com a real situação vivida no Brasilâ, aponta.
O cientista explica que o combate à corrupção foi uma bandeira muito forte defendida na eleição da presidente e não está sendo cumprida. âTendo em vista os acontecimentos do ano passado, a diferença de 2015 para 2014 não é tão desesperadoraâ, conclui.
Pontos positivos?
Para a TI, porém, existem pontos positivos no Brasil. "Juizes, parte da PolÃcia Federal, procuradores e o trabalho dos jornalistas tem sido fundamental ", completou diretor da TI para a América Latina, Alejandro Salas. Mas um dos principais aspectos a destacar é a força da pressão popular.
A TI convoca a população a continuar a cobrar e lembra que é a sociedade a " maior vÃtima " da corrupção. "Diante da queda da economia, dezenas de milhares de brasileiros estão perdendo seus empregos. Eles não tomaram as decisões que conduziram ao escândalo. Mas são os que vivem com as consequências ", apontou o informe.
Romano lembra que a pressão popular com as âJornadas de 2013â impediu que pautas conservadoras e retrogradas fossem aprovadas. âDe novo o que vemos é que projetos e reformas estruturais importantes estão engavetados. Sem essas reformas, não será possÃvel combater a corrupção como se deveâ, afirma.
Combate à corrupção no Brasil
Roberto Romano explica que a corrupção tem um lado sincrônico e um diacrônico. O diacrônico é quando um caso é descoberto depois do outro: a polÃcia descobre, o Ministério Público denuncia, a imprensa divulga e população fica indignada. O lado mais perverso, no entanto, é o sincrônico. Enquanto um está sendo punido, tem muitos outros operando.
âO caso da Petrobras estava operando enquanto o Mensalão era julgado. Aquele que aparece depois pode estar antes e, se não é descoberto, denuncia-se o resultado e não o pressuposto. Deixamos de lado os pontos mais vitais e dolorosos nessa estrutura da corrupçãoâ, aponta.
Para o cientista polÃtico, no entanto, o paÃs não está estagnado no combate à corrupção. âNão sou pessimista. Vemos que uma ação mais ousada como a Lava Jato ganha adesão de várias entidades e dos cidadãos. Porém a luta contra corrupção nunca é definitiva. Por isso, a vigilância cidadã é tão importanteâ, conclui.
Publicada em : 28/01/2016