Moro: o juiz que comanda as investigações que podem mudar o Brasil

Na contramão da indignação popular dos últimos dias, contra a presidente Dilma Rousseff e o agora o ministro da Casa Civil, Luis Inácio Lula da Silva, o juiz Sérgio Moro recebeu apoio e tratamento de herói. Com faixas “Somos todos Moro” e máscaras com o rosto do juiz em algumas cidades, a população dá aval às investigações lideradas por ele. moroMas quem é o juiz que desafia a corrupção? Sérgio Moro é juiz titular da vara federal especializada em lavagem de dinheiro e crime organizado de Curitiba. Também atuou como juiz auxiliar do STF, em 2012. Recentemente, Moro ganhou notoriedade exatamente ao assumir as deliberações da Operação Lava Jato. O juiz é natural de Maringá, nascido em 1972, filho de Odete Starke Moro e Dalton Áureo Moro. Ex-professor de geografia da Universidade Estadual de Maringá, formou-se em direito na mesma Universidade em 1995, tornando-se juiz federal um ano após. Cursou o programa para instrução de advogados da Harvard Law School em 1998 e participou de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro promovidos pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Moro é Mestre e Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná e Juiz Federal da 13.ª Vara de Curitiba. Ministra aulas de processo penal na Universidade Federal do Paraná e comanda a operação "Lava Jato". Casado, tem dois filhos. Além da Operação Lava Jato, o juiz também conduziu o caso Banestado, que resultou na condenação de 97 pessoas, atuou na Operação Farol da Colina, onde decretou a prisão temporária de 103 suspeitos de evasão de divisas, sonegação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. No caso do Escândalo do Mensalão, a ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber convocou-o para auxiliá-la, devido a sua especialização em crimes financeiros e no combate à lavagem de dinheiro. O juiz aclamado pela população foi indicado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil para concorrer à vaga deixada por Joaquim Barbosa no STF. Foi eleito o "Brasileiro do Ano de 2014" pela Revista "Isto É". Também foi escolhido como “Um dos 100 mais influentes do Brasil em 2014 pela Revista "Época". Na décima segunda edição do Prêmio Faz Diferença do jornal O Globo, foi eleito a "Personalidade do Ano" de 2014 pelo trabalho à frente às investigações da Lava Jato. Os posicionamentos de Sérgio Moro não são novidade. Em 2004, escreveu artigo em que abordava uma das maiores faxinas ocorridas na Europa, intitulado "Considerações sobre a Operação Mani Pulite" (Operação Mãos Limpas), publicado na época, na Revista do Conselho da Justiça Federal. As similaridades com a Operação Lava Jato são grandes. Na Operação Mãos Limpas, 6 mil pessoas foram investigadas, três mil mandados de prisão foram expedidos contra 872 empresários, muitos ligados a petroleira italiana, e 438 parlamentares enrolados nesta rede. Alguns envolvidos cometeram suicídio. Sobre a Operação Mãos Limpas, diz Moro em seu artigo: "A ação judiciária revelou que a vida política e administrativa da Itália, estava mergulhada na corrupção, com pagamentos de propina para a concessão de todos os contratos públicos, o que levou Milão ser classificada como "cidade da propina". A Operação Mãos Limpas foi iniciada em meados de fevereiro de 1992, redesenhando o quadro político italiano, talvez não encontrando paralelo em ação judiciária com efeitos tão incisivos na vida institucional de um país. Em 2004, Sérgio Moro comentava em seu artigo: "Encontram-se presentes várias condições institucionais necessárias para a realização de ação semelhante no Brasil". Mas enquanto Sérgio Moro liberava seu escrito, políticos e seus representantes em empresas estatais, "metiam a mão", sem dó, no dinheiro dos brasileiros, transferindo-o para o exterior para suas contas pessoais e de offshores, em quantidades incalculáveis. Moro destacava, em 2004, que "é ingenuidade pensar que processos criminais eficazes contra figuras poderosas como autoridades governamentais ou empresários, possam ser conduzidos normalmente, sem reações. Um judiciário independente, tanto de pressões externas, como internas, é condição necessária para suportar ações desta espécie. Entretanto, a opinião pública, como ilustra o exemplo italiano, é também essencial para o êxito da ação judicial". Apesar do grande apoio popular para com o juiz, após a polêmica divulgação de gravações da presidente, de Lula e de outros aliados petistas, a presidente Dilma Rousseff subiu o tom contra Moro e prometeu tomar medidas judiciais em relação ao assunto. Ao mesmo tempo, ato comandado por juízes federais e procuradores de todo país, pediu a independência do Poder Judiciário e reforçou o apoio ao juiz Sérgio Moro.
Publicada em : 18/03/2016

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