“Hackers do bem” projetam software para investigar gastos de deputados
Um projeto de âhackers do bemâ pretende criar um software capaz de monitorar os gastos dos deputados federais com a chamada âverba indenizatóriaâ. O valor utilizado por parlamentares com alimentação, combustÃvel, passagens e escritórios no berço eleitoral, por exemplo, pode chegar a R$ 45,6 mil por mês. O nome do projeto é âSerenata de Amorâ.
A Cota para o ExercÃcio da Atividade Parlamentar (Ceap) é uma cota única mensal destinada a custear os gastos dos deputados exclusivamente vinculados ao exercÃcio da atividade parlamentar. O valor máximo mensal da cota depende da unidade da federação que o deputado representa. Essa variação ocorre por causa das passagens aéreas e está relacionada ao valor do trecho entre BrasÃlia e o Estado que o deputado representa.
Apesar de estarem no site da Câmara dos Deputados, os dados são pouco transparentes e muito volumosos, já que reúnem informações de 513 deputados federais no órgão. âA aprovação da verba, que é realizada pelo próprio governo, é superficialâ, apontam os hackers.  Â
Por lei, o recurso fica disponÃvel para ser usado pelo polÃtico e seu gabinete em tudo que não precisa de uma licitação, como por exemplo, um almoço. De acordo com os desenvolvedores do âSerenata de Amorâ, somente no ano passado, em média, cada deputado gastou R$ 266 mil.
Segundo levantamento prévio, a lista de irregularidades com a verba conta com aluguel de imóveis como fachada para executar propaganda eleitoral para o partido, almoço de R$ 1.495,00 em um restaurante onde o valor é injustificável. Os dados também apontam que um parlamentar comprou bebida alcoólica em restaurante chique em Las Vegas.
âEstamos criando robôs capazes de varrer os dados do Governo, aprendendo e identificando o que é um gasto legÃtimo, ilegal ou superfaturado. Com o julgamento feito, vamos formalizar denúncias no Ministério Público e exigir que esse dinheiro seja devolvido para os cofres públicosâ, explicam.
O software vai analisar todas as notas fiscais e comprovantes da chamada verba indenizatória. O algoritmo de Machine Learning vai cruzar esses dados com diversos bancos de dados e assim achar desvios, anomalias e possÃveis casos de corrupção.
A âOperação Serenata de Amorâ recebeu este nome por três motivos. O primeiro é um escândalo ocorrido nos anos 1990 na Suécia, conhecido como âCaso Tobleroneâ. Investigadores descobriram a compra do conhecido chocolate com verba pública pela principal candidata primeira-ministra do paÃs usava verba pública para cobrir gastos pessoais. Além disso, de acordo com os criadores, o nome parece de um operação da PolÃcia Federal e também faz uma âserenata de amorâ para o Brasil.
Para realizar o projeto, os desenvolvedores contaram com financiamento coletivo, que já atingiu 100% da meta de arrecadar R$ 61,2 mil, com a ajuda de quase mil pessoas. A arrecadação, no entanto, ainda continua acontecendo, já que o valor era o mÃnimo estipulado para o projeto. Com o recurso em mãos, serão pagos oito profissionais para trabalharem por dois meses na Operação Serenata de Amor, sendo 4 deles em tempo integral.
âMais descobertas virão, com mais denúncias e em breve teremos um sistema que detecta gastos ilegais sozinho. O tão falado ârobô capaz de combater a corrupçãoâ vai começar a funcionarâ, explica.
Publicada em : 22/10/2016