“Embates cívicos podem agravar ainda mais a situação no Brasil”, afirma Roberto Romano
O professor de ética e filosofia da Unicamp Roberto Romano conversou com o Contas Abertas sobre os desdobramentos da 24º etapa da operação Lava Jato. Para ele, é de se esperar que ocorram embates cÃvicos nos próximos dias. âEsses embates cÃvicos podem agravar ainda mais a situação do Brasilâ, explica.

Depois da ação, o Partido dos Trabalhadores convocou a militância a defender, ao lado de nossos aliados, nas ruas e nas instituições, as regras constitucionais e a inocência do ex-presidente Lula. âO Partido dos Trabalhadores, nesse momento de afronta ao sistema democrático e à soberania popular, reafirma a mobilização permanente da militânciaâ, afirmou em nota.
O próprio ex-presidente Lula já havia convocado o âexército vermelhoâ para as ruas, falando do Movimento dos Sem Terra. Para o Romano, o MST tem uma pauta própria.
âO movimento vai apoiar até o momento que suas pautas sejam incluÃdas e muitas não foram atendidas nos últimos ano. O MST teria uma ação imediata, mas não é bem assim, não é automático, a tendencia geral é tentar defender as conquista de esquerda, mas sair nas ruas é uma passo grande. A verdade é que Lula blefouâ, explica. Lava Jato chega ao Lula Ações de hoje são consideradas históricas pelo professor da Unicamp. Para ele, o próprio Lula e o PT fizeram que isso fosse acelerado para hoje. âEles se defendem das acusações como imputáveis, acima do bem e mal, como quem não tem que prestar conta para ninguémâ, explica. Além disso, Romano afirma que à s crÃticas ao juiz Sérgio Moro, aos promotores da Lava Jato e à Procuradoria-Geral da República também foram realizadas de maneira errônea. âLula deveria ter se explicado de maneira convincente, apresentando provas. O que Lula falava parecia conto da carochinha. O certo era dar a escritura do sÃtio, mostrar quem pagou, etc. Isso foi aliado ao fato de ter âcutucado a onça com a vara curtaâ acelerou as ações de hojeâ, afirma. Instituições não estão funcionando Romano disse que é preciso negar o mantra repetido erroneamente de que as instituições estão operando normalmente. âNão acredito que isso seja verdade porque para funcionarem plenamente é necessário que os titulares cumpram as tarefas com base na missão constitucional da funçãoâ, afirma. Para o professor, a presidente não governa, o Legislativo está nas barras da cadeia e há dúvidas sobre a isenção de parcelas do Judiciário, como mostrou a delação do senador DelcÃdio Amaral sobre a indicação do ministro Ribeiro Dantas ao Superior Tribunal de Justiça.  âEssa anormalidade está instituÃda desde que entramos no primeiro governo Dilma. Já havia ali desarmonia das instituiçõesâ, explica. âEssa situação vem da atual situação do paÃs, mas ao mesmo tempo influência a crise econômica e social inédita,, o que se soma à falta de confiabilidade. Pesquisas mostram que há uma desconfiança enorme, não só nas instituições como na própria democracia, o que é extremamente problemáticoâ, conclui. Fim do Lulismo? Roberto Romano não acredita que esse seja o fim do Lulismo no paÃs. âO Lula adquiriu uma figura do tipo mitológico, como o Sebastianismo em Portugal, esse núcleo duro de defesa vai continuarâ, afirma. Para ele, no entanto, esse discurso será enfraquecido. Romano aponta que o enfraquecimento será decorrente do fato de não ter mais os recursos dos empresários, inclusive dos que foram pegos pela Lava Jato, e apoio da propaganda, que era tocado por Duda Mendonça e João Santana. âO mito vai continuar sendo uma figura importante da vida polÃtica nacional, mas não terá a força politica e de agregação que costumava ter. Lula conseguiu superar a crise do mensalão, mas a Dilma, sem carisma e sem liderança, acostumada a obedecer um chefe, não deverá ter o mesmo destinoâ, ressalta.Publicada em : 04/03/2016