Eletrobras tem pior execução de investimento em 16 anos

A Eletrobras investiu apenas 26,2% dos recursos previstos para 2015. O ritmo de execução, no período de janeiro a agosto, é o pior em 16 anos. O conjunto de 24 empresas do setor elétrico aplicou R$ 2,9 bilhões nos oito primeiros meses do ano. Ao todo, R$ 10,9 bilhões estão autorizados para o orçamento de investimentos da companhia. EletrobrasSe a execução dos investimentos fosse linear, pelo menos 66,6% dos recursos já deveriam ter tido destinação. Isto quer dizer que pelo R$ 7,3 bilhões já deveriam ter sido destinados aos projetos de 2015. Os dados levantados pelo Contas Abertas são constantes, atualizados pelo IPCA do período. As informações, fornecidas pela própria Eletrobras ao Ministério do Planejamento, constituem uma da únicas formas de acompanhar os investimentos da estatal. Além do baixo ritmo de execução, em números constantes, ou seja, atualizados pelo IPCA, a queda comparada com o ano passado foi de R$ 866,5 milhões até o quarto bimestre do ano. Entre janeiro e agosto de 2015, a companhia aplicou R$ 2,9 bilhões em obras e serviços para geração e transmissão de energia. No mesmo período do ano passado, a Eletrobras havia desembolsado R$ 3,7 bilhões. O valor é o mais baixo para o período desde 2008. A Eletrobras teve sua nota de crédito rebaixada pela Moody’s em maio, diante dos maus indicadores financeiros, reflexo do processo de renovação antecipada das concessões de energia em 2012 e da crise hídrica. Em setembro, a agência apontou que a Eletrobras poderia ter que rever investimentos. No relatório divulgado pela Moddy’s, a geração de caixa da Eletrobras é incompatível com o plano de investimentos da companhia para os próximos anos. “Ou a empresa revisa seu programa de investimentos, ou melhora sua geração de caixa, pois o plano é incompatível. Os bancos públicos deram suporte à companhia com financiamentos, mas agora isso não é mais sustentável. Ela tem de buscar o mercado de capitais e aumentar a geração de caixa”, disse o vice-presidente e analista sênior da Moody’s, José Soares. Segundo a agência, a geração de caixa não deve superar R$ 1,4 bilhão neste ano, o que se torna um desafio diante do plano de investimentos da companhia, de R$ 10 bilhões por ano entre 2015 e 2019, e das despesas com financiamentos. A dívida total da empresa deve atingir R$ 56,8 bilhões em 2016, de acordo com a Moody’s. A despeito disso, a liquidez da empresa é considerada relativamente adequada para os próximos seis a nove meses. No relatório, a Moody’s destaca que a geração de caixa da Eletrobrás deve continuar baixa nos próximos dois anos por conta das reduzidas margens da companhia. As receitas da Eletrobrás caíram desde que a empresa aderiu à Medida Provisória 579/2012, que tinha por objetivo baixar as contas de luz, e renovou suas concessões de forma antecipada. “A MP 579/2012 foi um desastre para a Eletrobrás em termos operacionais”, disse Soares. Segundo a Moody’s, para manter o programa de investimentos de R$ 10 bilhões por ano, a Eletrobrás terá de buscar R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões em financiamentos bancários e no mercado de capitais. Caso não consiga obter os recursos, a empresa terá de reduzir a projeção de investimentos para algo entre R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões por ano. Lava Jato A Moody’s menciona que a Operação Lava Jato não oferece risco de crédito imediato à Eletrobrás. No entanto, essa avaliação pode mudar dependendo do rumo das investigações, o que poderia dificultar a obtenção de crédito pela companhia. Sobre Angra 3, a agência afirma que a usina deve custar R$ 15 bilhões e começar a operar até o fim de 2018. No entanto, os financiamentos que a empresa conseguiu com BNDES e Caixa, que totalizam R$ 10 bilhões, devem acabar até o fim de 2016. “Estimamos um injeção adicional de R$ 4,5 bilhões para o projeto em 2017”, afirmou Soares. A Moody's manteve o rating da Eletrobras em Ba2, dois degraus abaixo do grau de investimento, e sustentou a perspectiva negativa, o que indica um possível rebaixamento no futuro.
Publicada em : 10/11/2015

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