Dilma usará Bolsa Família, mas “pedaladas” bancaram mais empresários
A presidente Dilma Rousseff deve usar os programas sociais, como o Bolsa FamÃlia, para politizar o tom da defesa do impeachment, que acontecerá hoje (4). A estratégia do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, será explorar argumentos de que, além de não ter cometido crime de responsabilidade, a presidente Dilma tomou uma decisão que ajudou a preservar importantes programas sociais, como o Bolsa FamÃlia.
No entanto, como o Contas Abertas já divulgou, a maior parcela dos recursos oriundos das manobras foi destinada ao subsÃdio para as grandes empresas, por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, e empréstimos para empresas do agronegócio, por meio do Banco do Brasil.
De acordo com o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) a âomissão dos passivos da União decorrentes de atrasos nos repasses de recursos federais impactaram as contas da dÃvida pública em cerca de R$ 40 bilhões no exercÃcio de 2014â.
O TCU apontou que o Bacen não computou, no cálculo da DÃvida LÃquida do Setor Público, passivos da União junto ao Banco do Brasil, ao BNDES e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Do total de âpedaladasâ, R$ 12,16 bilhões são referentes ao montante da equalização de taxa de juros devido pela União ao BNDES no âmbito do PSI.
O programa foi criado para estimular a produção, aquisição e exportação de bens de capital e a inovação. O grande empresariado não só gostou, como fez fila para pegar recursos do PSI.
No entanto, o programa gerou essa dÃvida de R$ 24,5 bilhões acumulada com o BNDES, mas o custo não é só esse. O PSI é realizado com taxa supersubsidiada, porém todos os empréstimos do BNDES são com taxas mais baixas do que as que o Tesouro paga.
Já os valores devidos pela União ao Banco do Brasil relativos aos itens âTesouro Nacional â Equalização de Taxas â Safra AgrÃcolaâ e âTÃtulo e Créditos a Receber â Tesouro Nacionalâ também ser inscritos na contabilidade da instituição financeira.
Conforme demonstra o TCU, ao final de junho de 2014, os saldos a pagar referentes à s subvenções agrÃcolas e à s demais subvenções alcançavam, respectivamente, as expressivas montas de R$ 7,95 bilhões e R$ 1,80 bilhão.
Juntos, o Banco do Brasil e o BNDES somaram omissões de registro de passivos da União na ordem de R$ 21,9 bilhões, o que representa cerca de 54,4% do total de R$ 40 bilhões das âpedaladas fiscaisâ.
A estratégia será Cardozo explorar argumentos de que, além de não ter cometido crime de responsabilidade, a presidente Dilma tomou uma decisão que ajudou a preservar importantes programas sociais, como o Bolsa FamÃlia. O Planalto sustenta que a estratégia contábil, classificada de âpedaladaâ fiscal pelos acusadores da presidente, foi um mecanismo da relação entre o Tesouro e os bancos previsto em regras contratuais.
A avaliação é que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, foi muito bem na explanação da semana passada, mas foi muito técnico. âO Cardozo é um homem de tribuna. Ele vai misturar improvisos com o que está escrito na defesaâ, disse o deputado Wadih Damous (PT-RJ), aliado do ex-presidente Lula nas articulações.
De acordo com a advogada JanaÃna Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment, as pedaladas constituem crime grave. "Normalmente, se pode imaginar é que essas pedaladas se constituÃam num mero problema contábil, de fluxo de caixa ou numa questão menor, que não constitui crime. No entanto, posso lhes dizer que constitui crime e crime graveâ, explica.
Paschoal explica que as pedaladas fiscais se constituÃram num artifÃcio, num expediente malicioso por via do qual foi escondido o déficit fiscal. âEssas pedaladas fiscais levaram a que a União contraÃsse empréstimos, créditos, com entidades financeiras das quais ela é a controladora. Isso é absolutamente proibido pelo artigo 36 da Lei de Responsabilidade Fiscal", argumenta.
Publicada em : 04/04/2016