Ajuste fiscal afeta investimentos e despesas discricionárias
Com a dificuldade para reduzir as despesas financeiras e obrigatórias, que dependem da conjuntura econômica e de alterações na Constituição Federal ou em leis especÃficas, o governo tem reduzido os investimentos e as despesas primárias discricionárias.
Dados levantados pelo Contas Abertas, mostram que, se comparados os valores investidos nos dez primeiros meses do ano pela União (administração direta), em 2014 e 2015, em valores constantes (IPCA), houve retração foi de 43,0%, o que significou R$ 23,1 bilhões a menos neste exercÃcio.
As restrições são drásticas. Os investimentos nos dez primeiros meses de 2015 somaram R$ 30,6 bilhões. Em 2014, no mesmo perÃodo, foram de, em valores nominais, R$ 53,7 bilhões.
Da mesma forma, as despesas primárias discricionárias entre janeiro e outubro de 2015 sofreram retração real de 14,7%, se considerado igual perÃodo em 2014. No ano passado, esses dispêndios atingiram R$ 84,5 bilhões. Neste exercÃcio, no entanto, foram de R$ 72,1 bilhões.
Na análise do Contas Abertas, as perspectivas econômicas também não são favoráveis, sequer a médio prazo. Há enormes dificuldades polÃticas para a realização do ajuste fiscal, seja pelo aumento de impostos ou pelo corte das despesas obrigatórias, o que depende do Congresso Nacional.
Como consequência, não há possibilidades de ocorrer a retomada dos investimentos, considerando o esforço ainda maior que o governo deverá fazer nessa rubrica para minimizar o desequilÃbrio das contas públicas. A perspectiva de saÃda do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, agrava ainda mais o cenário, embora o nome de Henrique Meirelles tenha sido bem recebido pelo mercado.
Em relatório apresentado na semana passada para Levy, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) ressalta que o paÃs âvive um momento crÃticoâ e enfatiza a importância de avançar com o ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas.
Segundo o relatório âa situação fiscal é um desafio, a inflação está alta e os ventos favoráveis dos altos preços das commodities e de uma população jovem estão sumindoâ. Tudo isso, diz a OCDE, está pressionando a economia, que deve contrair em 3,1% este ano e 1,2% em 2016, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) utilizadas pela organização.
O Relatório Econômico do Brasil ressalta ainda que âo crescimento econômico (â¦) dependerá cada vez mais da produtividade, pois as margens de aumento da participação do trabalho se reduziramâ.
A organização aponta que a produtividade industrial está âbaixa e estagnadaâ, mas, caso sejam realizadas reformas estruturais junto ao setor, este poderia desempenhar papel de liderança no aumento da produtividade. O relatório critica ainda os gargalos de infraestrutura, resultado de âvários anos de baixo investimentoâ, o que deve acontecer novamente em 2015.
Para Ricardo José Stefani, especialista em administração pública do Ibmec, o problema do ajuste fiscal está exatamente nas despesas que foram cortadas. âO Brasil precisava colocar determinado freio nas despesas públicas, mas o ideal era que não ocorresse nos investimentos e sim no custeio. âDiminuir o investimento significa condenar o nosso futuro a ser um pouco menorâ, explica.
Além disso, o economista e cientista social Eduardo Gianetti disse na última quarta-feira (11) que o ajuste fiscal que o governo da presidente Dilma Rousseff quer aprovar poderá trazer alÃvio por apenas um ano ao paÃs. Durante palestra organizada pelo setor de crédito financeiro, ele condenou qualquer tentativa de aumento de impostos e disse que o ciclo de expansão fiscal se esgotou.
âComo querem resolver as finanças brasileiras? Mais uma vez jogando a conta para o contribuinte. Nós sociedade civil não podemos tolerar mais uma vez esse tipo de avanço sobre o resultado dos nossos trabalhos porque não vai resolver. Vai dar apenas sobrevida para um modelo que se esgotou e está falidoâ, afirmou Gianetti.
Para ele, se o ministro da fazenda, Joaquim Levy, conseguir aprovar o ajuste fiscal, "na melhor das hipóteses por um ano vamos ter um certo alÃvio de que a dÃvida não vai crescer ou vai crescer menos. O ciclo de expansão fiscal chegou ao seu limite".
Publicada em : 13/11/2015